quinta-feira, 10 de junho de 2010

As alterações urbanísticas na zona da Sé do Porto e a Torre Medieval

A origem do edifício designado por a Torre Medieval, remonta aos anos trinta, do século passado e foi construído especialmente para nele serem instalados os serviços do Gabinete de História da Cidade, que foi criado pela Câmara Municipal do Porto em 1936, na sequência de um Despacho de 24 de Março, do Ministro do Interior. É provável que os antecedentes desta decisão se possam encontrar numa Portaria de 1847, determinando que as Câmaras Municipais organizassem a sua história nos Anais do Município.

demolições do bairro da sé Demolições no actual Terreiro da Sé do Porto

Rua do Aljube Rua de S. Sebastião

deloliçoesLargosé Demolições no actual Terreiro da Sé do Porto

rua frente da sé

Demolições na zona da Sé do Porto. Actual Calçada de D. Pedro de Pitões

quadroAlvarez Pintura de Dominguez Alvarez

DemoliçoesLatgo go Açougue Demolições no Largo do Açougue

DemoliçoesLatgo go Açougue2 Demolições no largo do Açougue

Com projecto e orientação do Arqtº. Rogério de Azevedo, procedeu-se à demolição da Casa Torre, medieval, situada no Largo do Açougue e com o aproveitamento de algumas das suas paredes primitivas construiu-se o edifício, designado por Torre Medieval, sensivelmente no mesmo local daquela. [1]

Casa Torre

Casa Torre

A partir de 1940, o Gabinete de História da Cidade transfere os seus serviços para o novo edifício, que está inserido na nova malha urbana da zona envolvente da Sé do Porto, resultante das profundas alterações urbanísticas efectuadas após os trabalhos de demolição de um número significativo de edifícios, e a criação de um amplo espaço, o Terreiro da Sé, circundado por uma balaustrada de granito, segundo uma ideia do Arqtº. Muzio[2] executada pelo Arqtº. Arménio Losa, então ao serviço da C.M.P..[3]

Séantesdepois

As alterações urbanísticas na zona da Sé do Porto.

in Boletim da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, Junho, Setembro, Dezembro de 1945, Março de 1946, Nº 40 a 43

A necessidade de espaço para o desenvolvimento das actividades do Gabinete de História da Cidade levou a que no início da década de sessenta, tenha sido pensada a ampliação das suas instalações ou mesmo a construção de um novo edifício no topo da projectada Av. D. Afonso Henriques, cujo projecto, da autoria do Arqtº Fernando Doutel se supõe arquivado na Câmara Municipal do Porto.[4]

torreMedieval Torre Medieval
Ao longo de cerca de trinta anos, a Torre Medieval foi utilizada pelos serviços do Gabinete de História da Cidade, que posteriormente transferiu as suas instalações para outro edifício (onde ainda se encontra instalado) cuja tradição apontava ter sido o local onde nasceu o Infante D. Henrique, e que sofreu trabalhos de adaptação, sob a orientação do Arqtº. Rogério de Azevedo.

A Torre Medieval, foi também utilizada por associações populares, de carácter local.

II

A Torre Medieval, é um edifício composto essencialmente por dois volumes, ambos de planta quadrangular, sendo um deles, o de cércea mais elevada, com três pisos (r/c+ 2 pisos), que coroado de ameias, lhe confere a sugestão de Torre, e um outro, adjacente, com uma cércea de dois pisos (r/c + 1 piso), por onde, a nível do r/c se faz o acesso ao espaço interior do edifício.

Na sua construção foi utilizado o granito, que foi mantido aparente a nível das fachadas exteriores, e uma estrutura de betão - lages e vigas (aparentes) - nelas apoiada e num pilar central de secção quadrangular. A escada de comunicação entre o r/c e o primeiro piso é em betão, com degraus em granito sendo a outra escada existente, para comunicação entre o primeiro e segundo pisos, construída em madeira. A cobertura, um telhado em quatro águas, foi revestido a telha cerâmica assente numa estrutura de madeira.

O espaço interior é de uma forma geral amplo, existindo apenas compartimentação a nível do r/c, onde actualmente se situam os sanitários e sobre a zona de entrada um espaço separado da área central e principal por uma porta.

Se a nível do tratamento das fachadas, o edifício explicita algumas preocupações, nomeadamente no desenho das fenestrações e de alguns elementos decorativos, já o mesmo não se verifica no seu interior, que apesar de eventuais alterações praticadas pelos seus sucessivos utentes, que consistiram essencialmente na colocação de algumas paredes divisórias, em madeira, o edifício conserva praticamente intacta a sua estrutura original.

Apesar de se tratar de uma construção relativamente recente (dos finais dos anos trinta do corrente século), com todas as características de uma “arquitectura cenográfica” com uma linguagem medievalista utilizada nos restauros e reconstruções pelos Monumentos Nacionais, decorrente do espírito históricista que influenciou as Comemorações Centenárias de 1940, constitui uma memória e uma referência na envolvente urbana da Sé do Porto e da própria cidade.

vista aerea2 Se

Terreiro da Sé do Porto, na actualidade.

vista aerea Se Terreiro da Sé do Porto, na actualidade.

[1] in Actividades Culturais da Câmara Municipal do Porto - Gabinete de História da Cidade - Rep. dos Serviços Culturais e Sociais da C. M. do Porto, MCMLI

[2] O Arqtº. Muzio, substitui em 1940 o Arqtº. Piacentini (Arqtuitecto oficial de Mussolini), que tinha sido contratado em 1938, pela Câmara Municipal do Porto para a elaboração de um Plano Geral para a Cidade.

[3] in Sérgio Fernandez Percurso - Arquitectura Portuguesa 1930 /1974, Edições da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, Textos Teóricos 7, 2ª edição, Porto 1988.

[4] in J. A. Pinto Ferreira Gabinete de História da Cidade do Porto - Sessão Comemorativa do Quadragésimo Aniversário da sua Fundação 1936 - 1976 , C.M.P., Porto MCMLXXVI.

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